
- MEU DEUS DO CÉU! – Gritou a garota que acompanhava o
senhor idoso na calçada. Enquanto o corpo ensangüentado dele sofria os espasmos
do choque com o ônibus, a garota gritava em desespero. Impotente. Uma multidão
se aglomerou ali e quase não se podia ver o corpo trêmulo do velho homem.
Não tive escolha. Pus o pé direito na proteção da sacada e
meus amigos logo gritaram.
- Thomas, não! O que é isso, cara? Desce daí! O que você tá
fazendo? – Robin disse quase tão desesperado quanto a garota lá na rua, mas eu
não tinha tempo para explicar. Acho que mesmo se tivesse não explicaria. Atirei
meu corpo para frente e comecei uma queda livre. Não pude ouvir meus amigos
gritando, mas tinha certeza de que estavam. Tudo o que eu ouvia era o barulho
do vento soprando com força nos meus ouvidos.
Um breve momento de queda e eu abri minhas asas.
- MEU DEUS, ME AJUDA, MEU DEUS! – Berrava a garota
transtornada, mas logo ela e toda a multidão ficaram pasmos quando eu pousei
batendo minhas asas negras bem perto do ônibus que esmagava o velho senhor.


Então eu o salvei. Ainda sim minha estirpe permanece odiada,
zombada. Não sei se aquele velho senhor irá me agradecer pelo o que fiz por
ele. Acho difícil. Não esta na natureza dos filhos de Adão demonstrar gratidão
por seus benfeitores, mas ao menos agora mesmo sendo um anjo caído, um demônio,
o que quer que seja...
...minha consciência esta tranqüila!
Aquele velho homem
vai viver...
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