"Meu coração certa vez me disse que há lucro no amor. Duvidei.
Ele me disse que poderia me trazer o amor e que este seria doce e gracioso. A única condição seria dá-lo autonomia para provar suas teorias.
Então ele partiu em busca do tal amor e voltou com uma pequena pedra nas mãos. Objeto este que ele afirmava ser o mais doce e gentil do mundo.
Horas passei ali esperando a pedra se manifestar e ela nada fazia a não ser ignorar minha presença. Perguntei ao coração por que ela não respondia, ele me retrucou afirmando que eu deveria tentar impressioná-la.
E então com a pedra no peito parti para mostrar tudo o que eu sabia fazer melhor. Passei alguns momentos de vexame na empreitada, mas consegui expor minhas qualidades. Mesmo assim a pedra nada me dizia.
Recorri ao coração novamente para perguntá-lo o que havia de errado com a pedra. Perguntei por que ela não me dizia nada e ele me respondeu que eu deveria ser especial e diferente.
Parti então com a pedra para minha casa, onde em meu guarda-roupa fiz a melhor seleção de roupas que pude encontrar ali na esperança de chamar atenção da fria pedra, mas ela nada expressou.
Já preocupado perguntei ao coração se o que havia feito não era o suficiente e ele me disse que vestir-se bem não era tudo e que eu deveria ter personalidade para conquistar a tão difícil pedra.
Recorri aos meus livros de poema, memorizei os melhores. Pratiquei a arte do cavalheirismo e da gentileza. Fui compreensivo com as motivações da tão cobiçada pedra e me disponibilizei a ouvi-la caso ela quisesse desabafar algo. Ela nada fez e nem em minha ajuda parecia estar interessada.
Percebi que além de mim havia outra pessoa próxima a pedra e que esta tinha o privilégio de conversar com a pedra.
Desesperançoso e submerso em tristeza fui tomar satisfações com o coração e este se manisfestou dizendo que não existe amor sem luta e que eu deveria lutar por quem amo.
E lá fui eu fazer concorrência com a outra pessoa que tinha a atenção da tão amada pedra. Debati, discuti e até briguei contra a concorrência para manter-me no lugar e ser o único para a pedra.
Quando o confronto terminou percebi que a pedra não me dizia nada. Limpei o sangue de minha testa e perdi a esperança.
Eu nada obtive do amor, mas do com o que passei aprendi que deve-se primeiro amar a si mesmo e que não adianta ser o ser humano mais fantástico do mundo se o amor não é recíproco.
Encontrei minha fuga com meus amigos em quem pude confiar para receber conselhos sensatos enquanto dividíamos garrafas e garrafas de vinho.
Hoje, mais sábio e ébrio, percebo que não tenho mais utilidade para meu coração, pois este se mostrou defeituoso nas horas em que deveria ter velado por minha felicidade.
Hoje depois de noites e noites de vinho e conselhos percebo que meu fígado já estava sucumbindo ao excesso de bebida.
Já não faz mais sentido se sacrificar se seu sangue derramado não será lembrado.
Você que se diz entendedor do amor...
...Logo vai perceber que é melhor ter um fígado desgastado...
...do que um coração defeituoso!"
-Um Poeta
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